Vandré Fonseca
                      15 de Setembro de 2011
Uma equipe internacional de cientistas analisou 138 artigos científicos  encontrados em 28 países diferentes e concluiu: quando se trata da  manutenção da biodiversidade em áreas tropicais, as florestas primárias  são insubstituíveis. Entre todas as possibilidades analisadas, apenas a  retirada seletiva de madeira apresentou um impacto considerado pequeno.  Ainda assim o efeito sobre a biodiversidade foi negativo. O artigo foi  publicado na edição desta quarta-feira (14 de setembro) da revista  Nature.
Mais de duas mil possibilidades foram consideradas na análise.  “Praticamente qualquer outra alternativa, além das áreas de floresta  madura e pouco perturbadas, é um péssimo negócio para a nossa  biodiversidade florestal”, afirma o professor Carlos Peres, da Escola de  Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia, um dos autores do  artigo.
De acordo com Peres, uma das lições aprendidas com o estudo é a  importância de manter protegidas grandes áreas de floresta primária, ou  santuários, como alguns gostam de chamar. “Do ponto de vista da taxa de  persistência das espécies de índole florestal, ou seja que  preferencialmente usam habitats de floresta, a melhor opção é realmente  manter vastas áreas de floresta primaria relativamente intactas”,  completa.
Mesmo florestas secundárias (regeneradas), consideradas essenciais para  abrigar a biodiversidade, sofrem redução na variedade de espécies em  comparação com áreas sem alterações. Segundo Carlos Peres, os dados  indicam que o tempo para a recuperação da biodiversidade varia bastante  conforme o histórico de perturbação e a paisagem ao redor, mas em alguns  casos a diversidade de espécies pode demorar séculos para ser  restabelecida.
“Mas em alguns casos, mesmo uma crono-sequência de 500 anos de  regeneração florestal ininterrupta, a partir de algum evento de corte  raso, não é o suficiente para recuperar a diversidade de espécies de uma  floresta primaria original”, afirma o pesquisador. O exemplo clássico é  o da floresta Tikal, no norte da Guatemala, uma das sedes do Império  Maia Clássico. “Hoje esta floresta parece até bastante vigorosa, mas a  composição de espécies de plantas e animais não chega nem perto do que  deve ter sido a floresta original da Mesoamérica, que estava lá há  milhares de anos, antes da chegada da agricultura dos Maias”.
Para o professor Lian Pin Kon, da Universidade Nacional de Singapura, a  retirada seletiva de madeira da floresta pode ser uma estratégia para  reduzir ameaças às florestas tropicais, “particularmente onde ela (a  floresta) é também rapidamente reduzida em sua extensão”, afirma. Para  proteger as florestas tropicais remanescentes do mundo, o estudo sugere  também a criação de áreas protegidas e a redução da demanda  internacional por commodities, que são obtidas a um custo alto para  floresta primárias.
Os autores identificaram uma grande perda de biodiversidade em florestas  asiáticas, mas aproveitam para clamar por mais estudos na África, onde  está a segunda maior área de floresta tropical do planeta.
Fonte:http://www.oeco.com.br/noticias/25299-estudo-reafirma-florestas-primarias-sao-insubstituiveis