sábado, 24 de setembro de 2011

Incêndio destrói um quarto da Floresta Nacional de Brasília

Nathália Clark
23 de Setembro de 2011
3 mil hectares da Floresta Nacional de Brasília foram arrasados por um incêndio com indícios de ter tido origem criminosa. Foto: Nathália Clark

Um cenário de devastação. “Desolador” é como o define o chefe dos brigadistas da Floresta Nacional de Brasília, Hélio Pereira da Silva, que atua na unidade há décadas e nunca havia presenciado tamanha destruição. Entre os dias 7 e 15 de setembro, o fogo consumiu mais de 25% da totalidade da área da reserva, que soma 9.346 hectares, e 75% da chamada Área 1, a maior e mais preservada da Flona, com 3.353 hectares e maior quantidade de remanescentes de Cerrado. Suspeita-se que o incêndio tenha sido criminoso, em represália às multas aplicadas por parcelamento de solo, uma vez que duas outras áreas da unidade possuem assentamentos de reforma agrária em quase toda sua extensão.

De acordo com a chefe da unidade, Miriam Ferreira, um levantamento feito em 2000 apontou que cerca de 1.500 pessoas habitavam a área total da Flona. Neste ano, esse número saltou para mais de 3.000. Estima-se que haja hoje cerca de 600 famílias e 2.500 pessoas somente na Área 2, onde fica o assentamento 26 de Setembro, estabelecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) antes da criação da unidade, em 1999. Entretanto, apenas um terço desse contingente está oficialmente contabilizado. Do total de habitantes da Flona, apenas dez possuem documento de posse do terreno. No último dia 12, o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Rômulo Mello, enviou ofício à Polícia Federal pedindo a investigação dos incêndios. Mesmo sem ter os resultados da perícia, a hipótese de ação criminosa foi confirmada veementemente pela Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, ao anunciar os números do desmatamento no Cerrado, na última semana. "O incêndio na Floresta Nacional de Brasília foi criminoso, já temos provas disso", afirmou.

Rômulo Mello declarou que a criação de uma área protegida no entorno de Brasília, onde as terras têm alto valor, implica em conflito de interesses. “São interesses imobiliários, com certeza, e conflitos na perspectiva de implementação da unidade”. Ele diz que as penas para esse tipo de crime são brandas. “Provocar incêndio em unidade de conservação prevê multas que variam de R$ 500 a R$ 5 mil. Eu, pessoalmente, julgo que são penas brandas, considerando que eles estão não só destruindo a biodiversidade, mas também provocando sérias deficiências à qualidade de vida e saúde da população”.

O brigadista Hélio da Silva considera a declaração de crime um pouco “precipitada”. Para ele, “tudo indica que foi um ato criminoso, dadas as proporções do ocorrido, mas ainda não foram encontrados indícios nem obtido o laudo pericial”. Proposital ou não, não há dúvidas de que foi o maior incêndio, em proporções, a alcançar uma unidade de conservação em todo o país no ano de 2011. Foi também a maior queimada em toda a história da Floresta Nacional.

Florestas, guardiãs da biodiversidade
Essa foto não é preto e branco. Essa é a cor das árvores mortas pelo incêndio. Foto: Nathália Clark

No Brasil, em 2011, a área total de incêndios apenas em unidades de conservação federais foi de 300 mil hectares. Foto: Nathália Clark

Em 2011, mais de 300 mil hectares já foram queimados nas unidades de conservação federais. Os números são melhores se comparados ao dado de 1,67 milhão de hectares incendiados em 2010, uma área quatro vezes maior do que a atual.

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